Desista
Já havia passado algum tempo, aquela sala de interrogatório estava se tornando insuportável e a vontade de fumar um derby semi forte não lhe deixava raciocinar. Batucava os dedos na mesa tentando relembrar algum ritmo conhecido, em vão.
Levantou-se e ficou encarando seu reflexo naquele imenso espelho na parede, podia sentir os olhares do outro lado, tinha certeza. Olhou tentando mostrar que não estava intimidado, não iria se dobrar, seja lá quem estivesse tentando. Respirou fundo e sentou-se novamente, agora um pouco mais confiante. O girar da maçaneta chamou sua atenção e levou sua confiança embora, virou-se (a porta era atrás de si).
Observou a mulher sentar-se a sua frente.
- Nervoso?
- Gostaria de um cigarro.
- Fiz uma pergunta!
- Preciso urgentemente de um cigarro. Pode me ajudar?
- Não entendo por que está nervoso. Assim que as perguntas forem respondidas, poderá fumar o cigarro que quiser.
- Olha moça... Não sei que diabo de pergunta eu tenho que responder... sei que gost... preciso de um cigarro.
- Há quanto tempo está nesta sala?
- O que?
- Perguntei há quanto tempo está nesta sala. Qual o seu problema com perguntas?
- Cacete... esquece o cigarro. Quero um advogado, só pode ser contra lei o que vocês estão fazendo.
- Há quanto tempo?
- Meia hora, vinte minutos, sete horas e trinta e cinco minutos, uma semana, como eu vou saber?
- Estamos progredindo...
- Em que direção?
- Eu faço as perguntas.
- E eu as ignoro.
- Entenda. Estou apenas tentando ajudá-lo. Se você soubesse metade do que eu sei, me levaria muito mais em consideração. Minha ajuda pra você, nesse momento, é simplesmente imprescindível.
Ficou novamente de pé e caminhou um instante pela sala branca, observou a mesa. Uma mesa perfeita de metal a única mácula era a marca de seus batuques num dos cantos. Observou a moça, vestia-se com uma saia longa preta e uma blusa abotoada até o pescoço branca. Sapatos de salto alto e um relógio no pulso.
- Que horas são agora?
- Você sabe a quanto tempo está aqui?
- Estou começando a achar que sempre estive.
Aproximou-se da moça, que manteve a posição, um tanto mais tensa.
- Qualquer contato físico é extremamente proibido e está sujeito a punições extremas.
Segurou o pulso da moça e olhou as horas.
- Está parado a algum tempo. Acabou a pilha, não troquei ainda.
Largou o braço da moça desistindo. Sentou-se novamente e com o rosto entre as mãos, começou:
- Como pode me ajudar?