Chovia bastante, o céu rugia como um cão danado, fui até a janela e fiquei observando a chuva, as gotas, fazendo várias, diversas, muitas, linhas verticais, outras um pouco inclinadas. Muitas linhas. Atravessando-se e unindo-se naquela dança louca. Comecei a cuspir e observar meu cuspe. Acompanhando-o com a vista até cair lá embaixo, naquele telhado 'brasilit' preto de lodo. Quando olhava o cuspe, as gotas de chuva ficavam pequeninas, viravam pontinhos brancos, como estrelas num espaço de 'brasilit' cheia de lodo. Estava vendo apenas suas costas e elas se afastando para baixo até que o cuspe sumisse entre elas, ai se transformavam, outra vez, em linhas verticais e inclinadas deixando de ser pontinhos estelares.
- TROOMMM! - reclamava o céu para mim, mero mortal. E tome chuva.
- Aaaahhhh! - gritei para o céu, sabendo que o som da chuva abafaria o meu grito.
- Chhhhuuuu... - a chuva se intesificou, agora molhava a borda da minha janela, o chão do meu quarto e a mim.
Não eram mais linhas verticais e inclinadas, e sim uma poeira que se afastava e ia cobrindo o telhado, lavando-o das fezes dos pássaros, depois recuava para avançar novamente, sempre com o mesmo canto:
- Chhhhuuuu... - aumentando e diminuindo de volume, canto interrompido apenas pelas reclamações:
- TROOMMM! TROOMMM! - antecedidas por um clarão que mudava as nuvens, de cinza escuro para uma espécie de branco vivo como 'neon'. E a reclamação, silenciava o canto da chuva, para que logo em seguida ela cantasse novamente. Havia certo ritmo louco em tudo aquilo então fiquei ali, a apreciar.
- Chhhhuuuu... Chhhhuuuu... Chhhhuuuu...
- TROOMMM! TROOOOOMMMMMMMMM!
- Chhhhuuuu... Chhhhuuuu... Chhhhuuuu... Chhhhuuuu...
- TROOOOOMMMMMMMMM!
E assim continuou por algum tempo. Até que parou sem que eu conseguisse me dar conta, restando apenas um baixo resmungo das calhas derramando água misturada a fezes e mijo. Até que nem o resmungo sobrou e o barulho dos motores e das pessoas voltou a reinar absoluto. Fazendo-me esquecer as reclamações que ouvira do céu.
Um comentário:
Contemplando a força da natureza, e cada cantinho, detalhe que passaria despercebido por qualquer um.
sons do cotidiano isto é, pessoas carros...fica mudo quando a chuva cai, vem o som que para muito lá embaixo quando escutam precisam sobreviver, ou não se molhar, mas para o senhor é um som do viver.
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