3456

Jonas caminhava, lentamente, marcando o ritmo e contando os passos. Parou e reparou em um grupo de quatro jovens que vinha em sentido contrário. Caminhavam conversando distraidamente. Duas garotas lindas, puras, sorridentes, apaixonadas pelos dois rapazes. Olhavam-se, falavam e sorriam.

"Por que não posso ser como eles?" Pensou. E logo obteve a resposta:

"Poder, você pode, camarada. Você apenas, não é!" Seu sínico amigo, Bruno havia voltado.

"Oh! Acordei você? Catástrofe! Por um momento achei que teria uma noite agradável. Você é a morte de todas as minhas esperanças."

"Adoro esse drama. Uma bela noite para uma caminhada, não?"

"Estava..."

"Não finja que não curte conversar comigo, sou o único que te conhece, o único que te entende. Enfim, o único que conversa com você. Se você simplesmente seguisse meus conselhos, com toda certeza, aprenderia a ser como todos os outros."

"Não me lembro de uma só vez em que você me deu algum conselho."

"Isso mesmo, este é o ponto. Você nunca me ouve. Por isto não se lembra."

"Chega! Tomarei um sorvete. E você, trate de esquecer-me."

"Adoraria."

A discussão fez com que Jonas apressasse o passo, chegando rapidamente à porta de uma lanchonete.

"Aqui? Você vai tomar sorvete aqui? DUVIDO!" Bruno parecia não ter intenção de deixá-lo em paz.

"Qual o problema deste lugar?"

"Hahaha"

"Qual a graça retardado?"

"Não há nada de errado com o lugar, idiota. É ótimo por sinal, como qualquer outro. Mas, para mim, que não sou louco. Já você, não dou um minuto para que comece com suas análises e observações. Você jamais entrará ai."

"Quanto você quer apostar?"

"Vai lá! Senhor ‘eu sou normal’, toma seu sorvete."

"É uma ótima lanchonete, meu caro. Limpa, organizada, bem freqüentada, segura..."

"Eu to careca de saber que o lugar é bom. O que não to vendo é você lá dentro."

"Calma! Não é assim que se entra nos lugares. Ainda estou me certificando de alguns detalhes."

"É disso que estou falando. Você é louco."

A porta estava a menos de cinco passos de Jonas, pessoas entravam e outras saiam. Com sandaes, sorvetes, milk shakes, lanches e outras porcarias. Também haviam pessoas sentadas dentro da lanchonete em pequenas mesas vermelhas de metal. Mastigavam, engoliam e falavam. Migalhas caiam sobre as mesas, os fundos dos copos estavam molhados, guardanapos eram usados e amassados no canto de pratos, saquinhos de catchup emporcalhavam as bandejas, havia um bigode que insistia em embeber-se naquele milk shake... Esticando um pouco o pescoço Jonas notou uma gota de suor na testa do garçom. E aquela gota era imensa, e parecia aumentar de tamanho a cada segundo e brilhava como um cristal. Jonas imaginou por um instante a infinidade de bactérias que poderiam ou deveriam habitar àquela gota. Como aquele garçom podia trabalhar com aquela gota pendurada em sua testa? Aquilo tudo era um ultraje. Aquelas pessoas não viam todo aquele suor? E eles levavam seus filhos ali, e os namorados levavam suas namoradas ali. E todos comiam hamburguer's ensopados em suor, e sorvetes com coberturas de suor. Era nojento, humilhante e Jonas jamais entraria ali.

"É só um sorvete. Uma gota de suor até ajudaria no sabor. Pára de frescura e 'vamo' lá!

"Cale-se!"

"Pobre Jonas. Louco varrido."

"Vou comprar sorvete no supermercado."

"Vai? Você já viu uma fábrica de sorvetes? Sabe como eles fazem?"

"Tem razão."

"Não seu débil mental, estou brincando. Adoraria tomar sorvete. E não tenho idéia de como é feito."

"Farei em casa, deve ter alguma receita na internet."

"Pobre Jonas."

E Jonas seguiu caminhando, havia andado 3456, e havia exatamente 3456 a caminhar de volta.

Um comentário:

Nathacha disse...

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Nathacha Phatcholly

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